23 de janeiro de 2011

«Wozzeck op. 7», de Alban Berg



Se pudéssemos orientar nossa percepção quando da oitiva de «Wozzeck» , de Alban Berg, poderíamos partir do seu caráter anti-romântico. E esse aspecto não é exclusivo (se bem que é característico) da sensibilidade de Berg, mas, sim, da peça homônima que inspirou sua composição. Diferentemente da tradição romântica que preponderava na Alemanha no início do sec. XIX, George Bückner, à semelhança do que representaria Heine anos mais tarde, teve plena consciência das limitações fatalistas que eram oferecidas como legitimadoras às incontornáveis leis da História. No caso de Berg, somente sendo esmagado por um profundo entendimento da natureza humana — compreensão essa destituída de qualquer sentimentalismo idealista — ele, assim como Bückner em décadas anteriores, poderia fazer desse deslocamento, dessa queixa e maldição ao presente, uma ópera brilhante.

Brilhante não apenas por trilhar caminhos autônomos aos de Gluck, Mozart, Wagner ou Debussy, por exemplo, mas por ser capaz de construir cada uma das quinze cenas de «Wozzeck» em uma forma instrumental diferente — a suíte, a passacalhe, a fuga o rondó, a sonata etc.. Curiosamente, esse procedimento serve tanto para demonstrar a não-autonomia de cada uma dessas formas musicais como também para afirmar a dependência estética de cada uma dessas estruturas no conjunto operístico.

Ele supera essas antinomias com sutilizas, por inúmeras e incessantes transformações. Como ele mesmo ressaltou, «é necessário que a técnica não passe despercebida, mas é de justiça ocultá-la profundamente». Cumpre lembrar que «Wozzeck», nas etapas de evolução de Alban Berg, significou o desembaraço das influencias de Schumann e Brahms. Uma obra representativa desse período é o «Quarteto opus 3». Como em outras obras, tais como Lulu, Berg faz concentrar em «Wozzeck» alguns temas-padrão: a fragilidade, a alienação e a loucura humanas. É construído então um universo no qual o «o individual não é mais que espuma da onda; a grandeza, um mero acidente; a autoridade do gênio, uma representação de títeres, uma luta irrisória contra uma lei férrea que, quando muito, podemos reconhecer, mas que é impossível dominar».

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