29 de janeiro de 2011

Vita nuova



A noite pertence não somente aos domínios do simbólico e arquetípico. Como retratos de personagens e romances, sua atemporalidade fascina-nos sobretudo por sua introversão e magia. A noite é nossa metade, a fixação da intensidade e perfeição. Qual ideal, experiência ou história, desempenharia com tamanha adequação a antiguidade coadjuvante de nossas causas e desventuras? Todas as sagas e lendas dos povos recorrem ao mergulho noturno. O material que dela se oferece faz-nos aprofundar no sono mais senhorio, esse que é o instante da ascese humana. Vivos, quando a caminhar na medida da terra, debruçamos a razão sobre o permanente. Porém, envoltos no caráter autônomo da noite, na freqüência do imprevisto e impensado, recorremos à intuição da coragem, o desprezo pela inteligência. À noite asfixiamos a boa educação para atribuir nossos talentos a margem extrema da nossa ambição e ventura.

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