8 de janeiro de 2011

Ler Sartre hoje



Ler o «Ensaio de Ontologia Fenomenológica» de J.-P. Sartre, nos dias a correr, é perceber que os limites da filosofia não se estruturam unicamente na linguagem que a suporta. Os compromissos do pensamento existencialista, sua dialética e liberdade — que o fazem ir além de uma filosofia meramente histórica — indicam a positividade daquilo que poderia ser chamado de «fenomenologia do sujeito». Todo o fascínio ou repulsa extremados que envolviam essa obra parecem fazer parte um tempo já não mais prejudicial à construção do projeto sartriano. Hoje podemos sentir nas páginas desse ensaio um pulsar que culminaria na «Crítica da Razão Dialética» e na aproximação de Sartre com o pensamento marxista.

Muito mais que uma fratura, como podemos pensar quando em contato com «Questão de Método», esses dois pólos de referência deixam-se tencionar com recíproca radicalidade — a do eu, de um lado, e da historicidade, do outro. Essa conversão radical, na terminologia de Herbert Marcuse, não é o simples abandonar de uma ideologia idealista. É, sim, o assumir do sentido mais íntimo daquele núcleo já teorizado em «O Ser e o Nada». É o instante de superação dos sonhos, das expectativas e esperanças. É o acordar do sujeito, a construção da sua história e da sua liberdade.

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