15 de novembro de 2010

Shostakovich, um prelúdio


«The majority of my symphonies are tombstones». — Shostakovich
Dmitri Shostakovich fascina-me sobretudo porque sua obra implica em reafirmar que «o amor é invencível nas batalhas». Como um fim que se aproxima ou paisagem que se dilui, percebemos que nem a mais alta metafísica é capaz de superar o sono da vida. Povoamos nossas misérias com desejos nunca inteiramente simples, mas altos, saudades de uma hipótese irrenunciável mesmo que de nós alheia. Pois viver é apenas tocar a consciência, e não abraçá-la como se abraça a atmosfera abstrata dos nossos pensamentos: somente há lugar para um, tanto mais feliz quanto descontente, tanto humano quanto mito, e apenas satisfeito.

Nele os contornos harmônicos figuram com maior realismo na medida em que adquirem relevo e expressões humanas, comuns em sua significação e atávicas em sua psicologia. Se amamos a perfeição porque não podemos tê-la, inútil socorrermo-nos às suas composições. Nosso esforço é vão, e não se projeta sobre nossas intenções. Ninguém é capaz de escutar a tensão de homens assim. Deles percebemos o aproximar tardio, tão anacrônico quanto trágico, tão belo quanto indefinido.

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