16 de novembro de 2010

A ler, IV



Ler livros assim faz-me ver o tempo seguir incontinente. Mas não é uma continuidade que se mostra na quietude: somente na certeza da condição daquilo que avança por certo ser pensado. É o ir sendo, essa janela aberta, o gosto do pão ausente, da busca e confiança em si próprio. Nós, como sombras a viver em ar noturno, somente nela acendemos à vida. E sempre, nalguma escala distante, achamo-nos sob influência daqueles domínios mais inumanos. O tempo é escuro, e servimos a um mestre desconhecido, sempre a nós desbotado e, ainda assim, atrativo.

— «Gustav Mahler: um coração angustiado», Arnoldo Liberman, Ed. Autêntica, 160 p., 2010.

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