«Játékok», György Kurtag
Todavia, diferentemente dos outros sistemas de ensino — como, por exemplo, os études de Czerny — , o foco dos Játékok é privilegiar a valoração do corpo como elemento artístico ao lado da gestualidade e performance. Através notação não-determinada, os Játékok estimulam a imaginação musical do intérprete possibilitando a execução e experimentação criadoras. Semelhantemente à estruturação do Mikrokosmos de Bártok, os Játékok são peças de progressiva dificuldade técnica, e, que, não raras vezes, a composição seguinte depende da assimilação da peça anterior.
Como ressaltam Claude Helffer e Catherine Michaud-Pradeilles, os Játékok «desempenham o mesmo papel para a utilização atual do piano e para a compreensão de uma linguagem aforística que nada renega do passado». Interessante notar que Kurtag vale-se dessas composições não como espécie de testamento musical, mas como experimentações que suplantam a própria linguagem idiomática do piano, onde o instrumento comporta-se como laboratório intencionalmente voltado à arte da composição.
Indo além do mero didatismo, o ensino do piano em Kurtag aponta para o encorajamento do aluno ir além do que a partitura estipula. Aqui, o que deve preponderar é a síntese criada entre a mediação do intérprete e obra, onde o lúdico estético define-se mais pela possibilidade experimentadora do que pela notação escrita. A partitura, aqui, converte-se em mera peça de articulação entre elementos desconexos e intuitivos da música criada. Como disse uma vez György Kurtag, essa é obra para a criança que brinca esquecida de si mesma e que sabe o valor do acaso e improvisação.
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