Arte e drama
A dialética das artes dramáticas polarizou-se, grosso modo, em dois extremos. O primeiro, por influência do teatro grego, era possível identificar o conviver não-hierárquico das imagens míticas ao lado da música e da dança. Ambas fundiam-se como reforço à expressão mágica do drama encenado. O segundo, centrado na expressão individual, teve por mestre Shakespeare. Nesse ponto, o drama moldava-se unicamente na caracterização psicológica dos personagens. Se no primeiro modelo sentimos ecos de Sófocles, no segundo modelo sentimos a forma de Eurípedes.
No caso da ópera, o período clássico, marcado pelas óperas de Spontini e Gluck, as apresentações combinavam, assim como no primeiro período grego, todas as performances com harmoniosa integração. Todavia, era esse o tempo onde a música também começava a deixar de ocupar o lugar que sempre ocupou. Se antes ela servia como elemento de transcendência e adoração entre homem e deus ou entre o homem consigo mesmo, agora a música passava ser tratada como commoditie.
Assim, os modelos musicais necessitavam alterar-se. Era preciso o fácil entendimento. A assimilação deveria ser espontânea. Iniciou-se a dissociação da música e do drama. Nesse novo universo as palavras eram apenas um pretexto para exibição do virtuose. Todavia, existiu Wagner, que se insurgiu contra esses modelos degradados. E o modelo para legitimar sua pretensão foi Beethoven, mais particularmente sua IX Sinfonia (sobre esse assunto, ler o ensaio «Beethoven», de autoria do próprio compositor).
Isso porque, aos olhos do mestre dos Anéis, a IX Sinfonia derivava da total integração entre música e palavra, entre drama e poesia. A arte, antes fragmentada, agora totalizava-se harmonicamente. Mas mais do que isso, essa totalização era guiada por um pensamento filosófico, uma imposição determinada capaz de exprimir uma visão, um pathos. A partir disso, compreender a origem das fontes de Wagner — uma vaga noção da filosofia budista, o pessimismo de Schopenhauer e as lendas germânicas — fica bem mais simplificado.
P.S.: No vídeo abaixo, onde vemos a encenação do II Ato de «O Crepúsculo dos Deuses», fica fácil ver a integração entre arte, teatro, música e drama:
No caso da ópera, o período clássico, marcado pelas óperas de Spontini e Gluck, as apresentações combinavam, assim como no primeiro período grego, todas as performances com harmoniosa integração. Todavia, era esse o tempo onde a música também começava a deixar de ocupar o lugar que sempre ocupou. Se antes ela servia como elemento de transcendência e adoração entre homem e deus ou entre o homem consigo mesmo, agora a música passava ser tratada como commoditie.
Assim, os modelos musicais necessitavam alterar-se. Era preciso o fácil entendimento. A assimilação deveria ser espontânea. Iniciou-se a dissociação da música e do drama. Nesse novo universo as palavras eram apenas um pretexto para exibição do virtuose. Todavia, existiu Wagner, que se insurgiu contra esses modelos degradados. E o modelo para legitimar sua pretensão foi Beethoven, mais particularmente sua IX Sinfonia (sobre esse assunto, ler o ensaio «Beethoven», de autoria do próprio compositor).
Isso porque, aos olhos do mestre dos Anéis, a IX Sinfonia derivava da total integração entre música e palavra, entre drama e poesia. A arte, antes fragmentada, agora totalizava-se harmonicamente. Mas mais do que isso, essa totalização era guiada por um pensamento filosófico, uma imposição determinada capaz de exprimir uma visão, um pathos. A partir disso, compreender a origem das fontes de Wagner — uma vaga noção da filosofia budista, o pessimismo de Schopenhauer e as lendas germânicas — fica bem mais simplificado.
P.S.: No vídeo abaixo, onde vemos a encenação do II Ato de «O Crepúsculo dos Deuses», fica fácil ver a integração entre arte, teatro, música e drama:
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