30 de outubro de 2010

Composições do «Grupo dos Cinco»

É sabido que, musicalmente, até o advento do romantismo, a Rússia vivia fraturada entre, de um lado, a cultura musical da corte, europeizada em moldes franceses, e, no outro extremo, o povo imerso na atmosfera advinda primordialmente dos cantos religiosos e populares. Um famoso publicista do século XX, citado por Jean e Brigitte Massin na monumental História da Música Ocidental, escreveu: «conheci inúmeros príncipes que não saberiam escrever duas linhas em russo». Obviamente que ecos podiam ser ouvidos na ópera.

Até então, todas as óperas russas eram cópias do que na Itália e França eram produzidas. Cimarosa, Paisello e Boieldieu eram os modelos. Nas bibliotecas particulares da nobreza afloravam livros de J.J. Rousseau, Montesquieu e Voltaire. Somente com Puchkin e Gogol esse estado começa a ser revertido. Na música, o grande responsável pelo turning point foi Glinka. A partir dele começaram a ser tecidas algumas manifestações preocupadas com o resgate da identidade nacional: criaram-se conservatórios, o folclore passa a ser valorado na devida grandeza, atenuam-se as influências estrangeiras e o ritmo sofre notáveis transformações.

Glinka compôs, ainda, a primeira ópera russa: «A vida pelo Czar». Em pouco tempo a literatura renasce sem as pesadas influências estrangeiras. É o tempo de Dostoievski, Tolstoi, Turgueniev. Em pouco tempo é extinta a detestável instituição conhecida como servidão. Na capital, no ano de 1863, um grupo de treze alunos dissidentes da Escola de Belas Artes criou a Sociedade de Exposições Ambulantes, tendo por objetivo aproximar as artes plásticas junto ao povo.

É dentro desse contexto de otimismo e nacionalismo que surge o Grupo dos Cinco. Podendo ser traduzido como Poderoso Monte, ele foi integrado por Mili Balakirev, César Cui, Modest Mussorgsky, Nicolai Rimsky-Korsakov e Aleksander Borodin. Várias foram as obras composta nesse período que ainda fazem parte dos programas das grandes orquestras.

Na suíte «Quadros de Uma Exposição», talvez a mais famosa composição do Grupo, pode-se notar a rica liberdade estética que materializa-se na fusão entre o intérprete e o teclado, «tratado antes como uma orquestra do que como um instrumento de virtuosismo». Anos depois o músico francês Maurice Ravel haveria de transliterar Quadros de Uma Exposição para orquestra. Porém, ali ouve-se Ravel, e não Mossorgsky. Somente Debussy e Stravinsky conseguiram, anos mais tarde, conferir semelhante autenticidade às inovações radicais trazidas pelo músico russo.

Abaixo estão publicadas as obras que representam algumas das facetas do zeitgeist do Grupo dos Cinco: «Uma noite no Monte Calvo» de Modest Mussorgsky, «Preludio Op.64» de Cesar Cui, «Islamey» de Balakirev, «Quarteto de Cordas nº 2 em ré maior» de Borodin, e «Concerto para piano em dó maior» de Rimsk-Korsakov.









0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial