24 de outubro de 2010

As nossas posses

Regozija nosso espírito saber que, ao menos num curto período, aproximamo-nos deles, das nossas referências. Mas com a mesma intensidade que esse reconhecimento passa pela nossa percepção e altera nosso ânimo, dele desabita, levando consigo toda aquela satisfação de ser, ao menos por um instante, digno de lembrança para aqueles que ainda virão. Mas as comparações não habitam, por certo, o verdadeiro artista. Mesmo na luta com o passado, ele não suprime - tampouco refreia - o conhecimento que tem do seu gênio.

Sabe ele que grandes vultos existiram. Mas com certeza maior sabe que eles agora alimentam narcisos; e mortos não mais podem produzir. Para materializar a autenticidade da criação do artista presente, antes de querer superar a si ou a outrem, é necessário saber que nada, a não ser a morte incerta, poderá impedir o amadurecer irremediável daquilo que merecerá ser conservado. Ao transcender a individualidade o verdadeiro artista sobreleva a história, convertendo-se imediatamente em passado superado – essa é a sua verdadeira e necessária posse.

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