A antiga teoria da moderna literatura
Em «As Revoltas Modernistas na Literatura», Otto Maria Carpeaux referenda a tese consensual de que historicamente o século XX iniciou-se a partir de 1914. Porém, o mesmo entendimento certamente não poderia ser aplicado à literatura. Se por um lado em felizes momentos ela soube antecipar as nuanças sociais e psicológicas que estavam apenas em estágio embrionário (como constata-se na obra de Hermann Hesse), por outro a literatura acabou por desestabilizar toda uma tradição que já havia se iniciado anos antes, que é a do encontro de um suposto ponto de equilíbrio espiritual para Europa dos anos de 1900.
Nesse contexto de modificações estruturais, escritores como Gabriele D’Annunzio, Stefan George, Rilke, Péguy e Alexander Blok, fazem raiar de algumas de suas obras algo de profetismo desesperançado. Mesmo a literatura dos anos 1914—1915, onde seria de se esperar acentuado viés memorialista de experiências bélicas, somente foi aparecer na forma como conhecemos hoje através dos escritos de Henri Barbusse, Wilfred Owen e Rupert Brooke, a partir dos anos de 1928, uma década após o armistício.
Por outro lado, existiu o otimismo vigoroso de Apolinaire — «Je sui ivre d'avoir bu tout l'univers» —, que somente poderia encontrar ressonância legítima noutras atmosferas. Nesse aspecto, a literatura modernista procurou justamente crescer com autonomia sobre as fraturas de uma Europa doente, contrariada com as conseqüências do avanço e radicalização dos seus próprios fundamentos (para alguns seria o imperialismo).
Como escreveu Carpeaux, «a própria função do modernismo na história literária consiste no seu afastamento da realidade: da realidade de 1910 e 1914, que não conseguiu sobreviver» (p. 26). André Gide, Hermann Hesse, os Pré-Expressionistas alemães, os futurismos alemão e italiano, os boêmios de Munique (Thomas Mann, Henrich Mann, Frank Wedekind, o ilustrador Thomas Theodor Heine e toda a revista satírica Simplicissimus) e os vários outros ismos, reconhecem não apenas esse estado de esfacelamento identitário.
Atestam, também, o fim de um ciclo no qual os movimentos artísticos perderam suas autonomias frente à crueza da realidade social. O modernismo, então, constituir-se-ia pela lei da novidade. E, sendo contrário ao cânone, haveria do próprio modernismo buscar seus referenciais. Porém, essa pretensão mostrou-se — se bem que não inteiramente — falsa.
Ezra Pound, por exemplo, valeu-se da poética provençal e chinesa em muitos dos aspectos programáticos do Imagismo, tal como «não usar palavra nenhuma que não contribua para a exposição», que muito lembra a poesia de Li Bai. Esse nascer de «fora» (a expressão é de Carpeaux) fez com que a crítica conservadora se insurgisse contra a tendência moderna. Esqueceu ela, porém, que o estabelecimento de cada um dos movimentos estéticos que já existiram sempre se afirmaram pela negação — essa que é, por sinal, a lei básica do movimento dialético.
Nesse contexto de modificações estruturais, escritores como Gabriele D’Annunzio, Stefan George, Rilke, Péguy e Alexander Blok, fazem raiar de algumas de suas obras algo de profetismo desesperançado. Mesmo a literatura dos anos 1914—1915, onde seria de se esperar acentuado viés memorialista de experiências bélicas, somente foi aparecer na forma como conhecemos hoje através dos escritos de Henri Barbusse, Wilfred Owen e Rupert Brooke, a partir dos anos de 1928, uma década após o armistício.
Por outro lado, existiu o otimismo vigoroso de Apolinaire — «Je sui ivre d'avoir bu tout l'univers» —, que somente poderia encontrar ressonância legítima noutras atmosferas. Nesse aspecto, a literatura modernista procurou justamente crescer com autonomia sobre as fraturas de uma Europa doente, contrariada com as conseqüências do avanço e radicalização dos seus próprios fundamentos (para alguns seria o imperialismo).
Como escreveu Carpeaux, «a própria função do modernismo na história literária consiste no seu afastamento da realidade: da realidade de 1910 e 1914, que não conseguiu sobreviver» (p. 26). André Gide, Hermann Hesse, os Pré-Expressionistas alemães, os futurismos alemão e italiano, os boêmios de Munique (Thomas Mann, Henrich Mann, Frank Wedekind, o ilustrador Thomas Theodor Heine e toda a revista satírica Simplicissimus) e os vários outros ismos, reconhecem não apenas esse estado de esfacelamento identitário.
Atestam, também, o fim de um ciclo no qual os movimentos artísticos perderam suas autonomias frente à crueza da realidade social. O modernismo, então, constituir-se-ia pela lei da novidade. E, sendo contrário ao cânone, haveria do próprio modernismo buscar seus referenciais. Porém, essa pretensão mostrou-se — se bem que não inteiramente — falsa.
Ezra Pound, por exemplo, valeu-se da poética provençal e chinesa em muitos dos aspectos programáticos do Imagismo, tal como «não usar palavra nenhuma que não contribua para a exposição», que muito lembra a poesia de Li Bai. Esse nascer de «fora» (a expressão é de Carpeaux) fez com que a crítica conservadora se insurgisse contra a tendência moderna. Esqueceu ela, porém, que o estabelecimento de cada um dos movimentos estéticos que já existiram sempre se afirmaram pela negação — essa que é, por sinal, a lei básica do movimento dialético.
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